Michel Foucault - Arqueologia do Saber
Michel Foucault denunciou o domínio da razão. Uma sociedade moderna que discriminava todos que não se enquadravam em seus padrões. Toda sociedade do século XIX e metade do século XX tratou desvios como loucura. O conhecimento passou a ser um meio de controle. Quem fugia a este controle era punido. Foucault é estudado na Filosofia, na Psicologia e em diversas áreas. Escreveu A História da Loucura, Vigiar e Punir, Arqueologia do saber e outras obras. Foucault denunciou todo exagero dos instrumentos de controle. Aquilo que parece racional, pode ser uma xenofobia, ou uma rejeição a tudo que é diferente. Muitas vezes é mais fácil rotular ele é bom ou mau. Mas será que essencialmente é uma questão moral? Na origem é uma questão de capacidade. Foi lhe dado condições para ser uma melhor pessoa. A sociedade, o governo deu-lhe oportunidades? É muito fácil rotular moralmente o que não foi trabalho em sua capacidade. A questão é dar melhor condições de vida. Investir num ser humano melhor, mais capaz. Não considerar o outro inferior, pior, mau. Michel Foucault denunciou o poder padronizado da razão, contribuiu para a aceitação do outro. Os manicônios, os tratamentos dos doentes mentais mudou, hoje pensamos em inclusão, em adaptação, mas esse caminho não foi fácil. Márcio Ruben, 2020.
"Termino aqui com este texto anônimo. Estamos agora muito longe do país dos suplícios, das rodas, dos patíbulos, das forcas, dos pelourinhos; estamos muito longe também daquele sonho que, cinqüenta anos antes, alimentavam os reformadores: a cidade das punições, onde mil pequenos teatros levariam à cena constantemente a representação multicor da justiça e onde os castigos cuidadosamente encenados sobre cadafalsos decorativos constituiriam a quermesse permanente do Código. A cidade carcerária, com sua "geopolítica" imaginária, obedece a princípios totalmente diferentes. O texto de La Phalange lembra alguns desses princípios mais importantes: que no coração da cidade e como que para mantê-la há, não o "centro do poder", não um núcleo de forças, mas uma rede múltipla de elementos diversos - muros, espaço, instituição, regras, discursos; que o modelo da cidade carcerária não é então o corpo do rei, com os poderes que dele emanam, nem tampouco a reunião contratual das vontades de onde nasceria um corpo ao mesmo tempo individual e coletivo, mas uma repartição estratégica de elementos de diferentes naturezas e níveis. Que a prisão não é filha das leis nem dos códigos, nem do aparelho judiciário; que não está subordinada ao tribunal como instrumento dócil e inadequado das sentenças que aquele exara e dos efeitos que queria obter; que é o tribunal que, em relação a ela, é externo e subordinado. Que, na posição central que ocupa, ela não está sozinha, mas ligada a toda uma série de outros dispositivos "carcerários", aparentemente bem diversos - pois se destinam a aliviar, a curar, a socorrer - mas que tendem todos como ela a exercer um poder de normalização. Que aquilo sobre o qual se aplicam esses dispositivos não são as transgressões em relação a uma lei "central", mas em torno do aparelho de produção - o "comércio" e a "indústria" -, toda uma multiplicidade de ilegalidades, com sua diversidade de natureza e de origem, seu papel específico no lucro, e o
destino diferente que lhes é dado pelos mecanismos punitivos. E que finalmente o que preside a todos esses mecanismos não é o funcionamento unitário de um aparelho ou de uma instituição, mas a necessidade de um combate e as regras de uma estratégia. Que, conseqüentemente, as noções de instituição de repressão, de eliminação, de exclusão, de marginalização, não são adequadas para descrever, no próprio centro da cidade carcerária, a formação das atenuações insidiosas, das maldades pouco confessáveis, das pequenas espertezas, dos procedimentos calculados, das técnicas, das "ciências" enfim que permitem a fabricação do indivíduo disciplinar. Nessa humanidade central e centralizada, efeito e instrumento de complexas relações de poder, corpos e forças submetidos por múltiplos dispositivos de "encarceramento", objetos para discursos que são eles mesmos elementos dessa estratégia, temos que ouvir o ronco surdo da batalha." Michel Foucault - Vigiar e Punir
Umberto Eco entrevista Michel Foucault - Vídeo Raro