AVALIAÇÃO, ÉTICA E IMPLEMENTAÇÃO!
Márcio Ruben
Márcio Ruben
Ao iniciar meus estudos em avaliação fiquei surpreso com as intermináveis definições sobre avaliação. E se falarmos em metodologia da avaliação, a confusão é maior. Metodologia ou tipo de avaliação? “Os teóricos de mais prestígio da área da avaliação diferem muito na visão do que é avaliação e de que forma deve ser feita” (LIVRO: AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS) 1 . Sei que o conceito de avaliação tem desenvolvido a cada dia, principalmente com as contribuições dos expoentes da avaliação modernos como Scriven e Patton, e vários comitês e associações sobre avaliação. As avaliações de políticas públicas, quando, por exemplo, na privatização de estatais, exige um controle por empresas externas na qualidade dos serviços prestados à população. Muitas avaliações somente são importantes para quem sofre um grande impacto do programa que afeta diretamente a sua vida. Para diretores abastados, o custo benefício, pode ser irrelevante. A falta de envolvimento e de resultados pode ser equiparado aos resultados de um juiz indiferente que não tem conhecimento profundo e experiência com o caso examinado. Conflito de interesses afetam o resultado quando o gestor tende a indiferença, pois não afeta o seu ego. Tudo reduz a credibilidade da avaliação. A avaliação de um produto que todos apostam nele, porém ao ser avaliado não apresenta eficiência. Scriven fala da “aprovação dos campos de treinamento pelos fuzileiros e de ritos de iniciação desumanizantes pelos membros de fraternidades”(SCRIVEN: AVALIAÇÃO: UM GUIA DE CONCEITOS) 2que seguem um viés de justificativa que muitos movimentos pelos direitos humanos não aprovariam. A avaliação desses objetos de estudo depende do sujeito que avalia. Mas qual é o padrão? O que é normativo? Consultores de avaliação são híbridos entre profissionais externos e internos, pois vivem certa independência ilusória, ao viver na verdade numa dependência e responsabilidade relevante ao avaliar o seu objeto avaliado. Abdicar de suas preferências, ser arbitrário, executar sua epochê fenomenológica. O contexto tem um caráter longitudinal 3e transversal, diacrônico e sincrônico. O histórico, os antecedentes do que se valia mais o momento atual, “o que se passa na atualidade” levam o avaliador a uma realidade da verdade dos fatos, uma busca da verdade nos moldes socráticos de definição. Por exemplo, numa avaliação formativa, a verdade não pode se apresentar apenas para o público alvo externo, também para os que convivem com o avaliado, o público interno (o staff) . 4É preciso distinguir e identificar os critérios para uma avaliação. Não é possível usar o mesmo critério de avaliação de pessoal para avaliação de produtos, ou até mesmo quando se avaliam professores, que conseguem um grande mérito por terem um planejamento de suas aulas, não é padrão de critério para avaliação de pessoal, que nem sempre apresenta um padrão previsível, determinista 5 . Infelizmente os conceitos metodológicos e instrumentais da avaliação podem ser e ainda são, por muitos profissionais e acadêmicos, idiossincráticos. Quão subjetivo pode ser um conceito de um fato objetivo. Conceituar, colocar no papel, definir. Pode ser “chato” criar normas e regras. Inconsistência entre a teoria e a prática.
Habermas é um filósofo que utiliza de uma hermenêutica relativista em contraste com a hermenêutica positivista, que esta é menos empática. “Ver os eventos numa perspectiva interna”6. Talvez um dos problemas mais complexos da avaliação é na implementação. Saber distinguir entre avaliação e recomendação. Nem sempre uma avaliação parte de dados ou premissas válidas. Recomendações ao cliente podem não ser aceitas, pois suas bases são inadequadas. Não houve uma visão de acordo com os fatos internos, com a realidade presente. Avaliações podem ser excelentes, mas redigidas sem clareza7. Segundo Scriven “o fenômeno da implementação pode ter poucas ou grandes implicações para o campo da avaliação”8. Todavia, uma avaliação pode ser parcial, ou melhor, não consumada ou fragmentária, muitas vezes motivada por medo de suas conclusões. Há vários motivos para uma axiofobia, principalmente quando interesses não casam, ou quando a ignorância do avaliador a respeito da capacidade do avaliando é o resultado de um péssimo julgamento. Por exemplo, um gestor não pode gostar de ser avaliado, todavia entende o prejuízo de um produto ruim, então mesmo contra a vontade sabe que o avaliador pode ajudá-lo a economizar nos custos do produto e evitar futuros prejuízos9. O que Scriven chama de “ajustar à fechadura a chave”. Mas a utilidade de uma avaliação pode ser descrita muitas vezes como implementação, ouvi muitas vezes isto, principalmente pelos avaliadores da área da saúde. Scriven afirma que, todavia “isto presume que o papel da avaliação é produzir recomendações, visto que somente recomendações são capazes de ser implementadas. Entretanto, muitas avaliações não podem nem devem incorporar recomendações” 10. “As diretrizes estabelecem uma referência de qualidade para as avaliações de modo que as mesmas sejam confiáveis, úteis, éticas e culturalmente apropriadas.”(RELAC) 11 A avaliação é uma ciência, pois possui métodos, regras. Segue valores, não é uma ciência livre de valores. Ética e moral exigem juízo de valor. Avaliar é julgar, avaliar é ver que a ética é uma política do bem-estar, base de igualdade dos direitos das pessoas.12 Há uma questão ética se, logo no início, a avaliação deveria ser feita, segue um objetivo honesto e arbitrário. A avaliação não depende exclusivamente da expertise do avaliador, mas da sua sagacidade, preparo e consideração ética e moral. Depende de sua equipe e olhar consciente. “De modo geral, o problema em avaliação primeiro é identificar valores relevantes”13 Sabendo que valores ilícitos violam restrições morais, restrições legais ou consistência lógica.
1Livro Avaliação de Programas, pág. 45. 2Livro Avaliação: Um Guia de Conceitos, pág. 222. 3Ibid., pág. 230. 4Ibid., pág. 236. 5Ibid., pág. 238.
6 Ibid., pág. 117 7 Ibid., pág. 320 8 Ibid., pág. 321 9 Ibid., pág. 500 10 Ibid., pág. 501 11 Diretrizes para Avaliação para a América Latina e o Caribe pág. 5. 12 Livro Avaliação: Um Guia de Conceitos, pág. 501 13 Ibid., pág. 510 14 Ibid., pág. 511
1Livro Avaliação de Programas, pág. 45. 2Livro Avaliação: Um Guia de Conceitos, pág. 222. 3Ibid., pág. 230. 4Ibid., pág. 236. 5Ibid., pág. 238.
6 Ibid., pág. 117 7 Ibid., pág. 320 8 Ibid., pág. 321 9 Ibid., pág. 500 10 Ibid., pág. 501 11 Diretrizes para Avaliação para a América Latina e o Caribe pág. 5. 12 Livro Avaliação: Um Guia de Conceitos, pág. 501 13 Ibid., pág. 510 14 Ibid., pág. 511
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